Enquanto o Cigarro Queima

O Diabo fez de mim o seu escravo e Deus deu-me o poder de ser feliz, mas à minha maneira.

Deitei-me no jardim, com o meu cigarro das duas da manhã na mão, uma bebida quente ao lado talvez, ou fria embora já não me lembre bem.
Deixei o meu cigarro queimar, do início ao fim, a observar as pessoas no caminho, casais felizes que trocavam carinho sem se darem conta da minha presença e pude admirar as coisas boas deste mundo, tudo isto enquanto deixava o meu cigarro queimar pelo tempo fora.

Lembro-me de olhar para as estrelas e de responder-lhes com os meus olhos que brilhavam enquanto sentia a brisa da noite a passar-me no pescoço como um gesto frio por entre as Mãos do Diabo, e decidi não deixar algo tão suave e simples assim, passar.

Coloquei os meus apontamentos no bolso, apontamentos nos quais tinha escrito histórias de amor, terror e fantasia e deixei-me levar com os pensamentos, abstractos e outros profundos enquanto através das memórias do passado lacrimejava como alguém que se tinha declarado a primeira vez ao amor da sua vida, olhos nos olhos.

Gostava de ter vivido mais tempo, de ter dado mais tempo ao próprio tempo para não deixar desperdiçar um segundo que fosse, ou para desperdiçá-lo até, com passeios por jardins em busca de um quiosque que vendesse aquele maço que tanto me vicia e queima por dentro. Logo eu que odiava o fumo do tabaco e a parte emocionante dessas histórias estava aí mesmo, nas minhas buscas por esses mesmos quiosques, quiosques esses que se enchiam de pessoas com as suas histórias para contar e dar a conhecer ao mundo toda a sua imensidão de felicidade, por mais simples que ela fosse.

Foi graças a essas coisas que me tornei na pessoa que sou hoje, a pessoa ridícula que escreve às duas da manhã enquanto deixa queimar o seu cigarro novamente e enquanto esses mesmos cigarros queimarem continuarei a ser feliz, enquanto busco por novas formas de felicidade e contento-me a observar o mundo, e por essas coisas sou completamente feliz.

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